Aos 7
anos, este garoto atento ao exercício nem sequer pronunciava o próprio nome:
Henrique. Sua família pouco sabia como ajudá-lo. Na escola, ele pôde conhecer a
si mesmo, o manejo das coisas, as outras crianças... Estudar foi a primeira
porta aberta para o desenvolvimento, que ele encontrou num ensino que respeita
o tempo de cada um
"Antes, jogos, letras e cores não
queriam dizer nada para mim...mas
agora, que estou na escola, fazem
parte da minha vida" Henrique Michel
da Silva, 10 anos.Foto: Gustavo Lourenção
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"Hoje a escola é a
sua casa", conta Regina Graner, professora da 4ª série da EMEF Professor
Taufic Dumit, em Piracicaba, a 160 quilômetros de São Paulo."Ele conversa,
participa das aulas e troca idéias com os colegas."Para Henrique Michel da
Silva, é uma grande conquista. Aos 10 anos, está aprendendo a comandar a
própria vida, que antes era dominada pela deficiência mental.Além de ter
dificuldade para falar e se fazer entender, ele não conseguia comer nem se
vestir sozinho. Sua mãe achava isso um impedimento insuperável."Ele sempre
foi mais lento para aprender as coisas", justificava a dona-de-casa
Elisângela de Fátima Oliveira da Silva quando era indagada pela professora do
filho.
Elisângela não imaginava do que Henrique
seria capaz se fosse incentivado de maneira adequada. Foi com a ajuda da
professora Marta Giuste da Silva, na 1a série, que ele conseguiu dizer seu nome
claramente pela primeira vez. "Comecei um trabalho com ele desde a
pronúncia", diz a educadora. Daí em diante, o processo deslanchou. O
menino revelou-se um dedicado aprendiz na sala de aula, daqueles que não se
calam cada vez que têm uma dúvida. Ao mesmo tempo, a professora conversou muito
com a mãe de Henrique e conscientizou-a de que a escola regular tinha a
obrigação de receber seu filho.
Na sala de apoio, o garoto contou com uma
professora para ajudá-lo a se desenvolver no que tinha mais dificuldade. Com o
tempo, passou a ler histórias por meio de imagens e a contá-las aos amigos.
"Ele já monta pequenas frases, desenha e organiza livrinhos", diz a
educadora especializada Maria Aparecida Vale longo Cunico.
Há pouco tempo, o destino provável de
Henrique seria uma classe só com crianças com o mesmo quadro de retardo
mental.Hoje, seu direito de estudar na escola regular vem sendo respeitado,
ainda que falte à maioria das pessoas entender o que é deficiência
mental."É um atraso na adaptação ao aprendizado, ao convívio social e às
funções motoras", explica o psiquiatra José Belisário Cunha, da Associação
Brasileira de Neurologia e Psiquiatria Infantil (Abenepi), em Belo Horizonte.
Quem tem deficiência é capaz de muita coisa:
ler, escrever, fazer contas, correr, brincar e até ser independente. "A
grande novidade é que, se a criança for estimulada a descobrir seu potencial,
as dificuldades deixam de persistir em tudo o que ela faz", afirma
Belisário. Ou seja, ela precisa de novos desafios para aprender a viver cada
vez com mais autonomia. E não há lugar melhor do que a escola para isso. Qual o
papel do professor nessa história? Em primeiro lugar,bancar o desconfiado. O
diagnóstico de deficiência mental não determina o potencial da criança.
"Pode ser que o aluno não apresente na escola os problemas que tem em
casa. Isso resulta, muitas vezes, da falta de acompanhamento da própria
família", diz Belisário. Por exemplo, como uma criança consegue
desenvolver a fala se a família não conversa com ela?
Nas aulas de leitura, a professora
aproveitava a empolgação de Henrique para ajudá-lo a se desinibir na frente dos
amigos."Ele foi se soltando até conseguir divertir a turma toda com uma
história", diz ela. O garoto dava um toque de emoção às tramas, como
quando encenava o sopro do lobo na casa dos três porquinhos. "A classe
toda aplaudia", lembra Marta.Henrique nunca faltou a uma só aula.
Igor tem
espaço para desenvolver suas melhores habilidades
na escola: ao mesmo tempo que treina oralidade
por meio da leitura e da contação de histórias,
mostra-se fera na associação de imagens
exigida em jogos de memória. Foto:
Gustavo Lourenção
É muito comum a família de uma criança com
deficiência querer fazer tudo por ela. "É difícil se conter diante das
dificuldades", diz Belisário. "Mas na escola, no meio da garotada,
qualquer um aprende a se virar sozinho." Para o psiquiatra, as
instituições e classes especiaisnão colheram grandes frutos justamente por
terem assumido o papel de protetoras. Ir ao banheiro sozinho, fazer exercícios
em grupo e brincar no recreio são estímulos que contribuem para o
desenvolvimento intelectual do aluno.
O casal de agricultores gaúchos Marlene e
Reni Wasen, da cidade de Sapiranga, na Grande Porto Alegre, soube de antemão
que seu filho viria ao mundo com síndrome de Down,provocada por uma anomalia
genética. Ígor Wasen, 9 anos, aprendeu muita coisa desde cedo.Começou a andar
com 1 ano e 7 meses e parou de usar fraldas quando ainda era bebê.Na creche,
tomava banho e vestia-se sozinho. Ele cresceu e continuou independente.
Nos bailes da cidade, aonde vai até hoje com
a família, desgarra-se dos pais para dançar e comprar refrigerante. "Não
se perde nem no meio de mil pessoas", diz a mãe. Quando não tem muita
lição de casa, o guri se oferece para ajudar os pais a carregar lenha.
Mesmo com esses precedentes animadores, o
garoto surpreendeu Marlene e Reni quando escreveu seu nome logo no início da 1a
série da EMEF Pastor Frederico Schasse, em Morro Reuter, a 80 quilômetros da
capital gaúcha. Ígor já escreve um pouco em português, mas, na hora de falar, o
idioma alemão é praticamente lei na comunidade onde vive."Só falamos
português quando tem visita", diz a mãe.
Em decorrência da síndrome de Down, o menino
tem alguma dificuldade de se expressar. Ainda bebê, começou a ir à
fonoaudióloga na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) para
tratar o distúrbio.Até hoje, visita uma especialista toda semana.
E, na sala de aula, dá-lhe ouvir histórias.
Assim, a professora Dirce Sauzen o estimula a conversar sobre elas com os
colegas.
Ígor ainda tem pouca destreza com as letras,
mas se sai muito bem em jogo de memória e no quebra-cabeças. Quando percebeu a
facilidade do garoto para associar pecinhas, a professora aproveitou para
reunir materiais que tivessem desenhos, palavras e números. "Ele consegue
resolver mais rápido os exercícios que exigem montagem e organização",
conta Dirce.
Ígor é prova de que a deficiência pode falar
mais alto numa habilidade, mas pouco influi em outras."Se um aluno se dá
mal em Matemática, pode ter afinidade em área que não depende do raciocínio
lógico", afirma Belisário. A maranhense Danielle Batista Gonçalves, 17
anos, passou 12 deles na Apae por causa da síndrome de Down. Sua evolução foi
mais lenta que a de Ígor.Começou a andar aos 7 anos e a falar aos 9. Aos 12,
escreveu o nome pela primeira vez."Foi aí que me dei conta de que ela
precisava estudar", diz a mãe,Maria Lucimar Batista Gonçalves. Hoje, na 8a
série da Unidade Integrada Rubem Goulart, em São Luís, a adolescente posa
orgulhosa para fotos ao lado dos troféus que conquistou em duas competições de
maratona feitas nas ruas da cidade. A campeã nunca deixou de ir à Apae, onde
faz cursos e apresentações de dança e teatro. "Gosto muito de atividade
física. Só Matemática que acho difícil", diz Danielle.
O ingresso na escola regular não foi nada
fácil.Até hoje a menina chora quando não consegue responder oralmente a uma
pergunta."Ela se sai melhor com questões de múltipla escolha", diz o
professor de Geografia Daniel Mendes Pereira, que sempre pensa numa maneira de
a estudante participar dos exercícios sem medo.Nas aulas de Língua Portuguesa,
a afinidade da jovem com a escrita rendeu até um prêmio no festival de poesia
da escola.
Maria Lucimar sempre se dedicou à filha.
Colocou-a na Apae aos 8 meses sem esperar que ela fosse aprender algo.Um dia,
ela e o marido, pais adotivos da menina, leram no jornal que crianças com
deficiência teriam o direito garantido de entrar na escola regular.Agora,Maria
Lucimar desata a falar das qualidades da filha: "Ela conversa bem,
participa dos trabalhos, é aplicada nos deveres, pesquisa nos livros e ganha
prêmios". E se derrama em lágrimas quando vê Danielle dançar.
Atividades e estratégias
PROPORÇÃO
O desenvolvimento da coordenação motora pode ser mais lento em crianças que têm deficiência mental. Uma das maneiras de estimular o aluno a dominar seus movimentos é fazê-lo escrever o nome em folhas de papel de diferentes tamanhos. Assim, ele também visualiza a necessidade de aumentar ou diminuir a letra de acordo com o espaço.
INTEGRAÇÃO
É muito comum uma criança com deficiência mental ter problemas de oralidade. Por isso, aulas que estimulem o aluno a contar histórias são bem-vindas. É importante dar continuidade à atividade com bate-papos na classe sobre os personagens ou sugerindo que os estudantes dêem o próprio final à trama e o apresentem aos colegas. A atividade deve sempre ser feita com a turma toda.
O desenvolvimento da coordenação motora pode ser mais lento em crianças que têm deficiência mental. Uma das maneiras de estimular o aluno a dominar seus movimentos é fazê-lo escrever o nome em folhas de papel de diferentes tamanhos. Assim, ele também visualiza a necessidade de aumentar ou diminuir a letra de acordo com o espaço.
INTEGRAÇÃO
É muito comum uma criança com deficiência mental ter problemas de oralidade. Por isso, aulas que estimulem o aluno a contar histórias são bem-vindas. É importante dar continuidade à atividade com bate-papos na classe sobre os personagens ou sugerindo que os estudantes dêem o próprio final à trama e o apresentem aos colegas. A atividade deve sempre ser feita com a turma toda.
VARIEDADE
Diversifique os meios de acesso ao conteúdo na sala de aula. Crianças com deficiência mental (e sem deficiência também) nem sempre aprendem por meio de folhas com exercícios impressos, livros didáticos ou material concreto de Matemática. Elas podem se identificar mais com músicas, passeios, desenhos, vídeos ou debates.
Quer saber mais sobre Deficiência Intelectual?
EMEF Pastor Frederico Schasse, BR 116, km 216 (Secretaria de Educação), 93990-000, Morro Reuter, RS, tel. (51) 3569-1455
EMEF Professor Taufic Dumit, R. Macatuba, s/no, Piracicaba, SP, 13408-194, tel. (19) 3425-6064
Unidade Integrada Rubem Goulart, R. Seis, s/no, 65053-503, São Luís, MA, tel. (98) 3225-9020
BIBLIOGRAFIA
Inclusão Escolar de Crianças com Síndrome de Down, Maria Antonieta Voivodic, 176 págs., Ed. Vozes, tel. (11) 6693-7944
Práticas Pedagógicas na Educação Especial, Anna Maria Lunardi Padilha, 210 págs., Ed. Autores Associados, tel. (19) 3289-5930
EMEF
Theo Dutra, Av. Guilherme de Almeida, s/nº , CEP: 02866-040 , São
Paulo – SP – (11) 3851.8820
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